quinta-feira, 7 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008

une enquête de métaphysique appliquée

si nous appelons métaphysique la discipline inspirée par la tradition philosophique qui entend définir l'équipement de base du monde commun, alors la métaphysique appliquée est ce sur quoi débouchent les controverses sur les entités qui nous font agir, puisqu'elles ne cessent de peupler le monde de nouvelles forces et d'en contester d'autres. la question est alors de savoir commen explorer la métaphysique des acteurs. la réponse apportée par les sociologues du social a consisté à prétendre s'abstenir de toute métaphysique et à couper les ponts avec la philosophie, cette discipline fantaisiste et non empirique qui représenterait, à leurs yeux, la petite enfance des sciences sociales désormais parvenues à maturité. en limitant de façon drastique l'ensemble des entités "réellement agissantes" dans le monde, ils ont cru affranchir les acteurs de leurs propres illusions, aplanir la voie qui mène à la modernisation, préparer le terrain pour une ingénierie sociale à grande échelle.
(bruno latour, changer de société, refaire de la sociologie)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

na natureza selvagem

sei que há muitos que não poupam seus louvores às maravilhas da natureza. mas a natureza só é bela quando a contemplamos da segurança do nosso espaço fechado. como deve ser terrível, para aqueles que se encontram no navio que afunda, contemplar o mesmo pôr-do-sol que inspirará os poetas. e, para aqueles que se perderam, a selva nada tem de belo: é o inferno puro. a natureza sem limites, ali a vida e a morte se misturam, e o medo e o ar não podem se separar. o jardim começa quando os homens separam um espaço e dizem: "aqui a natureza será graciosa, um espelho dos meus desejos." numa linguagem do jovem marx, o jardim é a natureza humanizada, que se tornou bom lugar para se morar. extensão do meu corpo, porque cada planta que planto ou cada fonte que construo respondem ao pedido da minha saudade. e é como se neles se repetissem as primeiras lições da criança, junto ao seio materno, que aprende que vida e prazer escorrem de um mesmo lugar. o jardim é a natureza que nos oferece seu corpo como seio, fruto para ser comido, objeto de fruição erótica.
(rubem alves, o quarto do mistério)

vedére

TEORIA
do Lat. theoria

s. f.,

conhecimento especulativo, puramente racional;
conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou ciência;
doutrina ou sistema acerca desses princípios;
opiniões sistematizadas;
hipótese;
suposição;
especulação;
sistema;
tese;
conjectura;
noções gerais;


fam.,

utopia.
do Gr. theoría, procissão

s. f.
,

ant.,
deputação ou embaixada sagrada enviada por um Estado grego para representá-lo nos grandes jogos desportivos, consultar um oráculo, levar oferendas, etc. ;
conjunto de pessoas a marchar processionalmente.

VER
do Lat. videre

v. tr.
,

conhecer ou perceber pelo sentido da vista;
contemplar;
assistir;
presenciar;
olhar para;
ser testemunha de;
examinar;
observar;
apreciar;
notar;
ponderar;
deduzir;
antever;
distinguir;
enxergar;
calcular;
avaliar;
visitar;
tomar cuidado em;
experimentar;
prestar atenção;
conhecer;


v. int.,

ter vista;


v. refl.,

encontrar-se;
achar-se;
sentir-se;
mirar-se;


s. m.,

o acto de ver;
conceito;
opinião.

domingo, 27 de julho de 2008

na natureza selvagem

jardim é paraíso.
e paraíso é felicidade.

plantar um jardim é afirmar a confiança de que estamos destinados à felicidade.

pois é isto que significa jardim, que nada mais é que uma tradução do paradisus latino e do paradeisos grego. palavras que, por sua vez, se derivam do pérsico antigo pairidaeza, que quer dizer "espaço interno fechado".

jardim é um espaço fechado.
(...)
a natureza sem limites, ali a vida e a morte se misturam, e o medo e o ar não podem se separar.

(rubem alves, o quarto do mistério)

sábado, 26 de julho de 2008

teoria

do casamento do monótono e do homogêneo, que pode nascer senão o tédio?
(Tarde)

terça-feira, 3 de junho de 2008

sôdade

inicio uma série dedicada à saudade. que é isto: saudade?

Evocação do Recife
manuel bandeira

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!


A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão


(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.


Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras


Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.